quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Educação Infantil de Qualidade!


Eu nunca ouvir falar de um oftalmologista realizando cirurgia de coração. Tampouco que um ginecologista realizasse transplante de córnea. Ainda bem! No entanto, se na medicina ocorre tudo bem, pelo menos no que diz respeito às Especialidades e uso das funções, na educação não é bem assim. Principalmente quando se trata de um segmento pouco valorizado, no qual os professores são tratados como professores marginais. Estou me referindo à Educação Infantil. Como professora de crianças pequenas expresso aqui a minha queixa contra o descaso do poder público com esta etapa da Educação Básica, principalmente quando se trata da Creche, instituição que atende em tempo integral crianças de zero a três anos. Ora, temos em salas de aula donas de casa que participam diretamente da educação das crianças. São as auxiliares de sala. Quero deixar bem claro que não tenho nada contra estas pessoas, nem ignoro que estas tenham seus diversos saberes. Todavia, espera-se, que para cada função exija-se, e se necessite, de um saber específico.
Mas, pensando bem, quem tem esse saber específico? As professoras? As coordenadoras? As chefes de distritos? Outro dia após ser convidada a calar e ficar quietinha, visto que ainda estou no estágio probatório, estágio este que dura três amargos e subservientes anos, ouvi de uma chefe muito superiora que cada pessoa tem um saber e este deve ser valorizado. Estamos vivendo um processo de aprendizagens mútuas. Assim, se uma professora sabe desenhar, pode perfeitamente cooperar com as colegas, assim como, àquela que sabe cantar, decorar salas, enfim, cada um com seu talento forma o corpo docente da creche. Isto muito me preocupou. Mas, tentando manter o bom humor pensei em chamar a Xuxa ou o Sílvio Santos para dar uma voltinha na Educação Infantil. Não há quem duvide, acredito, que ambos são talentosíssimos. Foi dái que me surgiu as indagações a respeito das funções de cada um. É realmente revoltante ver o descaso com a Educação Infantil. Descaso dos gestores e de alguns (muitos) professores que tratam as crianças como pequenos seres adestráveis, domináveis,  ensináveis, decoráveis... dentre outros áveis. Bem, descupando-me dos neologismos, volto à querela contra isso aí que chamam de Educação. Ora, o mínimo que se espera é que nossas amigas e companheiras (uso o feminino porque não tomei conhecimento de haver homens atuando como professor de creche) tenham lido os teóricos, a LDB, os Referenciais Nacionais para a Educação Infantil, enfim, que tenham o conhecimento básico para lidar com as crianças. Desta forma, evitariam os  rótulos de hiperativas, impossíveis, mal educadas, dentre outros adjetivos. Além dos muitos preconceitos que as famílias usuárias sofrem: são pobres e sem educação; pais analfabetos, crianças que não aprendem... (!!!) Há crianças que passam o dia ouvindo músicas da religião de suas respectivas professoras. Estas fazem orações e batem no peito dizendo que o melhor que podem fazer é ensinar o que os pais não ensinam, valores. Ora, valores e dogmas religiosos são duas coisas completamente diferentes. Tenho a minha fé e não abro mãe dela, mas a escola pública é laica, não tem religião. Não podemos, acima de tudo, desautorizar aquilo que para família  é um valor, defendem DALBERG, Gunilla; MOSS, Peter; PENCE, Alan . Se uma criança diz à professora que seu deus é Oxum, Maomé, Jesus Cristo ou  seja lá qual for a divindade, então o é.
Pois bem, defendo que o tempo urge e que as mudanças são para agora. Assim, sugiro  que o poder público ofereça formação específica para todo o pessoal que está envolvido com a educação das crianças pequenas. quando digo todo o pessoal, refiro-me às professoras, coordenadoras, formadoras, e, acima de tudo e todas, as chefes dos distritos. Desta forma, penso, não teremos o risco de ver cego guiando cego. Sugiro também, que as queridas e super poderosas professoras, dediquem mais tempo para o estudo dos teóricos que embasam as suas práticas e que dediquem, também, exaustivos momentos de reflexão sobre aquilo que vivenciam com as crianças. Todo conhecimento é provisório. aquilo que vimos na universidade pode ter sido refultado. A ciência não pára!!! Um grande abraço!